Fotografia de Maria da Graça Carvalho.

Entrevista à Ministra da Ciência e do Ensino Superior
Maria da Graça Carvalho

 
Portugal Diário:
Escolas com poucas condições para experiências apesar da aposta do Governo em cativar jovens para áreas científicas
Data: 24-11-2003
 

Confessa apaixonada pelo trabalho de laboratório, a ministra da Ciência e do Ensino Superior reconheceu hoje que as escolas oferecem poucas condições para fazer experiências, apesar da aposta do Governo em cativar jovens para áreas científicas.

A prova de que existe muito trabalho a fazer surgiu pelas palavras de Catarina, 17 anos, que passou uma semana no Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN) no âmbito do programa «Ocupação Científica de Jovens nas Férias».

Aos jornalistas e à ministra Maria da Graça Carvalho, que hoje visitou aquele laboratório a propósito do Dia Nacional da Cultura Científica, a estudante contou com entusiasmo o que aprendeu e fez, acrescentando que «na escola tinha apenas a teoria», pelo que a passagem pelo ITN permitiu-lhe perceber o que apenas via nos livros.

«Só ouvia falar nas coisas, não tinha contacto. Foi das melhores coisas que já fiz, foi uma experiência muito gratificante», disse a aluna, agora no 12º ano.

A própria ministra, engenheira mecânica de formação, acabaria depois por confessar aos jornalistas a mesma paixão pelo trabalho de investigação no laboratório.

No entanto, questionada sobre a falta de laboratórios nas escolas, a ministra reconheceu as deficiências, mas lembrou que nos últimos anos se apostou em «aumentar o número de pessoas a estudar».

«Temos de olhar agora para as condições», continuou, acrescentando que «não há ciência sem componente experimental», pelo que irão ser tomadas medidas nesse sentido, nomeadamente com o Ministério da Educação.

A formação é, aliás, uma aposta do Executivo, continuou, sublinhando o reforço do investimento na área da ciência na proposta de Orçamento de Estado para 2004 (14,5 por cento), nomeadamente para a atribuição de bolsas (1.000 por ano) e reequipamento científico.

«Os fundos estruturais estão a diminuir, pelo que o OE tem de ser aumentado para compensar. Pela primeira vez temos um programa de bolsas todo nacional, com base no Orçamento de Estado», continuou.

Esta «clara aposta na inovação» do Governo passa também por apoiar a integração dos doutorados e licenciados nas empresas, hospitais e indústria, pois só aí «eles podem fazer a diferença», fazendo com que o país dê «o salto».

Daí que o Executivo esteja empenhado em cativar jovens para as áreas científicas e tecnológicas, até porque, segundo dados da Comissão Europeia, serão precisos 600 mil novos investigadores na Europa até 2010 e aumentar em 15 por cento o número de licenciados em tecnologia, apontou.

Sobre o ITN, inaugurado em 1961, a ministra falou na necessidade de dinamizar este laboratório, o que poderá passar por juntar neste espaço, em Sacavém, equipamentos actualmente disponíveis em universidades e faculdades que não têm condições para os albergar.

Em cima da mesa está um plano de reconversão e desenvolvimento para o ITN que será apresentado em Conselho de Ministros e que deverá ser conhecido dentro de meses.

O ITN dispõe do único reactor nuclear existente no país, pelo que o conhecimento em radiação disponível, com aplicações no ambiente e segurança, é «fundamental para um país que se quer independente», considerou.

«Na minha opinião não devemos desactivar o reactor», disse a ministra.

Até ao final da semana, dedicada à Ciência e Tecnologia, laboratórios, universidades e museus abrem portas num total de cerca de 250 acções gratuitas em todo o país, numa organização do Programa Ciência Viva, na dependência do Ministério da Ciência e do Ensino Superior (MCES), que cumpre a sua 6/a edição.

Para hoje, o ITN tinha já marcadas 180 visitas.